Daqui a oito meses, a Copa do Mundo de 2026 entrará para a história como o maior evento esportivo já realizado. Porém, o crescimento do torneio preocupa cientistas, atletas e torcedores, que alertam para os possíveis impactos ambientais da competição marcada para Estados Unidos, México e Canadá.
Evento mais extenso e emissões recordes
Pela primeira vez disputada em todo um continente, a edição de 2026 reunirá 48 seleções, com 104 partidas — 40 a mais que o formato anterior. Pesquisas da organização Scientists for Global Responsibility (SGR) estimam que o torneio gerará mais de nove milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente, número que pode torná-lo o mais prejudicial ao clima na história das Copas.
Para a professora Madeleine Orr, especialista em ecologia do esporte na Universidade de Toronto, o projeto “envia uma mensagem perigosa” ao indicar que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e outros organizadores pretendem “apenas ficar cada vez maiores”. Segundo ela, a proposta confronta as promessas públicas da entidade de reduzir emissões.
Calor extremo e segurança dos torcedores
Quatorze das 16 cidades-sede estão classificadas como vulneráveis a calor extremo no período do torneio. A dra. Orr avalia que, entre meio-dia e 16h, muitos estádios podem se tornar “praticamente impraticáveis”. A Fifa cogita alterar horários de início das partidas e concentrar jogos em arenas com cobertura retrátil, mas ainda não apresentou plano detalhado.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, reconheceu recentemente, em assembleia da European Football Clubs (EFC) em Roma, que as temperaturas de verão exigem repensar o calendário global. “Talvez seja preciso otimizar”, admitiu.
Precedentes de calor em competições recentes
No Mundial de Clubes deste ano, disputado nos Estados Unidos, recordes de temperatura e tempestades causaram atrasos de até duas horas em seis partidas. Em Nova Jersey, o termômetro superou 35 °C durante a semifinal entre Chelsea e Fluminense, levando o meio-campista Enzo Fernández a relatar tontura e classificar as condições como “muito perigosas”.
A Copa de 1994, também em solo norte-americano, detém o recorde anterior de calor, com 41 °C no jogo entre Irlanda e México em Orlando. De acordo com o meteorologista da BBC Simon King, a tendência é de temperaturas ainda mais altas em 2026: em junho de 2023, o índice de calor chegou a 50 °C em Monterrey (México) e a 44 °C em Miami.
Imagem: bbc.com
Pressão de jogadores e torcedores
O ex-meio-campista David Wheeler, campeão da causa ambiental na Associação de Jogadores Profissionais (PFA) na Inglaterra, afirmou que as entidades esportivas “não estão assumindo a responsabilidade” e que “não merecem lucrar com o futebol” se não usarem seu poder para melhorar o cenário.
Já o defensor Héctor Bellerín, do Real Betis, premiado no BBC Green Sport Awards, destacou a dificuldade de promover a sustentabilidade em um esporte “cada vez mais global”. “Há mais jogos, mais viagens, condições mais duras, e nos dizem apenas para hidratar”, criticou o espanhol.
Segundo Bellerín, somente uma mobilização coletiva de atletas poderia alterar o rumo das decisões. Enquanto isso, o debate sobre o clima promete acompanhar a reta final de preparação da Copa do Mundo de 2026.
Com informações de BBC Sport