A atacante Christina Burkenroad, 32 anos, inicia as quartas de final da Liga MX Femenil nesta semana de 7 de novembro de 2025 como um dos maiores nomes do Monterrey Rayadas. A trajetória que a levou a marcar mais de 100 gols e conquistar três títulos mexicanos começou bem longe dos gramados profissionais: ela chegou a viver dentro de um carro na praia de San Diego durante o ensino médio.
Infância marcada por perdas e instabilidade
Nascida nos Estados Unidos, filha de mãe mexicana e pai norte-americano, Burkenroad perdeu a mãe, vítima de esclerose lateral amiotrófica (ELA), quando tinha apenas quatro anos. Anos depois, já adolescente, enfrentou desemprego e problemas de saúde mental do pai. Sem dinheiro para o aluguel, os dois foram despejados no terceiro ano do ensino médio e passaram a dormir em um utilitário estacionado à beira-mar. O veículo também seria recolhido posteriormente.
Naquele período, a jovem se envolveu com álcool, drogas e pequenos furtos para sobreviver. “O futebol era meu santuário”, contou. O esporte, único ponto fixo em meio ao caos, manteve vivo o sonho de ser profissional.
A virada: apoio, escola e primeira vitrine
Aluno da Mission Bay High School, em San Diego, Burkenroad chamou atenção do técnico Jorge Palacios logo no primeiro ano. Mesmo com experiência restrita a ligas recreativas e partidas com times masculinos, virou artilheira da equipe e terminaria o ciclo colegial com 93 gols, eleita melhor jogadora da liga em duas temporadas.
Enquanto tentava esconder a falta de moradia dos colegas, recebeu abrigo definitivo da amiga da família Stacey Haerr, que a acolheu em casa. Ao saber da situação, comunidade e escola organizaram doações para custear alimentação e material esportivo.
Universidade e salto ao profissional
Com auxílio de treinadores locais, chegou à Cal State Fullerton no fim de 2011. Lá virou destaque nacional: foi duas vezes MVP do Torneio da Big West Conference, entrou na seleção All-West Region em 2015 e anotou o primeiro hat-trick da história da universidade no campeonato regional.
No draft de 2016, assinou com o Orlando Pride da NWSL, mas, em disputa por espaço com estrelas como Alex Morgan e Marta, pediu transferência no ano seguinte. Em 2017 mudou-se para o IK Grand Bodø, da Noruega, e em 2018 para o AC Prague, da Tchéquia, onde jogou a UEFA Women’s Champions League até a temporada ser interrompida pela pandemia de COVID-19.
Chegada ao México e consolidação
Sem clube durante o isolamento, recebeu em 2020 uma mensagem que mudou sua carreira: “Quer jogar no México?”. O convite rendeu contrato com o Monterrey Rayadas. Adaptada a um papel de camisa 9 “livre”, evoluiu tecnicamente e virou referência ofensiva da equipe.
Imagem: espn.com
Desde então, ganhou três títulos da Liga MX Femenil e alcançou a marca centenária de gols pelo clube. Na rodada final da fase regular de 2025, marcou duas vezes, incluindo o gol da virada aos 98 minutos, resultado que impulsionou o time para o mata-mata.
Seleção mexicana e reencontro com as raízes
Filha de mãe nascida em Tijuana, Burkenroad foi convocada pela primeira vez à seleção feminina do México em meio à passagem vitoriosa pelos Rayadas. Hoje disputa vaga no elenco que tentará a classificação para a próxima Copa do Mundo.
Fora de campo, a atacante diz viver o momento mais estável da vida. Em San Diego, onde ainda visita o pai — agora em situação melhor —, mantém laços com Stacey Haerr, a quem chama de “mãe escolhida”. No último Día de los Muertos, montou pela primeira vez um altar com a foto da mãe e da pequena Christina ao centro, símbolo de um ciclo que se fechou.
O futebol que começou como refúgio virou profissão, lhe deu um endereço fixo em Monterrey e a chance de encerrar 2025 com mais um troféu.
Com informações de ESPN