Relatório aponta que 12 policiais aposentados poderiam responder por falta grave no caso Hillsborough

Josias Junior

Um relatório do Independent Office for Police Conduct (IOPC) divulgado nesta quarta-feira (27) concluiu que 12 policiais aposentados da South Yorkshire Police (SYP) teriam de responder por conduta gravíssima se a legislação disciplinar atual estivesse em vigor à época do desastre de Hillsborough, ocorrido em 15 de abril de 1989 e que resultou na morte de 97 torcedores do Liverpool.

Entre os citados estão o então chefe da corporação, Peter Wright, e o ex-comandante da partida, David Duckenfield. O documento de 366 páginas aponta “falhas fundamentais” no planejamento, na gestão da crise e em “esforços coordenados” para atribuir a culpa aos torcedores.

Limites da lei

A legislação que permite processar disciplinarmente policiais aposentados foi alterada em 2017, mas sem efeito retroativo. Todos os 12 citados já haviam deixado a força antes do início das investigações, em 2012, o que impede qualquer processo administrativo.

Principais conclusões

O IOPC identificou:

  • Dez supostas violações do Código Disciplinar por parte de Peter Wright no pós-tragédia;
  • Dez acusações contra David Duckenfield por falhas decisórias e de comunicação antes e durante o jogo entre Liverpool e Nottingham Forest;
  • Oito outros agentes da SYP com possíveis infrações ligadas à preparação, resposta emergencial e tentativas de desviar responsabilidades;
  • Dois ex-altos oficiais da West Midlands Police (WMP) – Mervyn Jones e Michael Foster – por suposto viés a favor da polícia e contra torcedores na investigação inicial;
  • 92 queixas consideradas procedentes e 327 depoimentos policiais alterados.

Um 13º policial aposentado da SYP também teria caso a responder, segundo o relatório, que encerra a maior investigação independente sobre conduta policial já realizada na Inglaterra e no País de Gales.

Custos e processos criminais

O inquérito do IOPC custou 88 milhões de libras. Paralelamente, a operação policial Resolve, focada nas circunstâncias do dia do desastre, consumiu 65 milhões de libras e levou seis pessoas a julgamento; apenas o então secretário do Sheffield Wednesday, Graham Mackrell, foi condenado.

Reações

A chefe da SYP, Lauren Poultney, pediu desculpas pelas “falhas em série” da corporação. A vice-diretora-geral do IOPC, Kathie Cashell, classificou as falhas como “vergonha nacional”.

Relatório aponta que 12 policiais aposentados poderiam responder por falta grave no caso Hillsborough - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Familiares das vítimas disseram que o relatório confirma a responsabilidade policial, mas reforça a sensação de impunidade. “Nunca haverá justiça verdadeira, pois ninguém irá para a prisão”, afirmou Charlotte Hennessy, que perdeu o pai no desastre. A advogada Nicola Brook qualificou o resultado como “amarga injustiça”.

A secretária do Interior, Shabana Mahmood, declarou que o documento é “lembrete contundente de um dos maiores fracassos da polícia britânica” e destacou que a mobilização das famílias levou à aprovação, neste ano, da Hillsborough Law, que impõe dever de transparência a servidores públicos.

Outros parentes, como Margaret Aspinall e Steve Kelly, defenderam mudanças no sistema disciplinar para evitar que o tempo impeça responsabilizações futuras.

Com informações de BBC News

Compartilhe esta notícia